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Audiência da desordem urbana em Campos foi ensaio para ano eleitoral

Foto: Reprodução

A Câmara de Campos promoveu na última sexta-feira (20) uma concorrida audiência pública, proposta pelo presidente Marquinho Bacellar (SD), sobre a desordem urbana. Contudo, houve muita desordem: o trânsito no entorno do Jardim do Liceu ficou travado, teve invasão e tumulto na sede do Legislativo. Cada grupo político tem sua versão para os fatos. Como saldo, uma grave denúncia em relação ao Hospital Geral de Guarus (HGG), após a fiscalização dos, no mínimo, polêmicos deputados estaduais Alan Lopes (PL), Filippe Poubel (PL) e Rodrigo Amorim (PTB), enquanto a administração da unidade alega abuso de autoridade dos parlamentares. No plenário da Câmara, no entanto, o que se pôde assistir foi a um ensaio para o próximo ano, sobretudo após o fim da pacificação política.

O vídeo de abertura da audiência era sobre problemas nas vias públicas, violência na área da Pelinca, entre outros assuntos, com base em reportagens da imprensa local. No entanto, o que se ouviu na tribuna da Câmara, pouco foi sobre isso. Apesar da participação de representantes do governo sobre o tema, a fala da maioria dos vereadores ganhou outro nicho, quase de palanque eleitoral. Vereadores se revezavam na tribuna, na maior parte, para defender ou criticar o governo Wladimir Garotinho (PP), além de em alguns casos alfinetar a presença dos deputados na cidade para a audiência.

São necessárias respostas.

Do governo, é preciso esclarecer o que está acontecendo no HGG. Que história é essa de médico estar na Bahia e “emprestar” o nome para outro profissional atuar? E ponto assinado com antecedência? O blog destacou recentemente uma entrevista de Vitor Mussi, superintendente da unidade, pontuando ao Manchete Podcast que só pacientes graves devem ir ao HGG, para evitar filas e superlotação. Porém, médicos ausentes também causam tais problemas e é bem mais grave do que que procura a unidade para buscar atestado.

A Câmara precisa esclarecer se houve agressão dos seguranças a uma servidora da Prefeitura, coordenadora do programa Centro Pop. A assistente social Maria Júlia Lessa, que estava inscrita para falar na audiência, relatou na tribuna da Casa que foi agredida. As câmeras de segurança estão aí para esclarecer os fatos e punir, se houve excesso, os culpados. Aliás, nesta segunda (23), Wladimir explorou o caso nas redes sociais. Em um movimento claro de que a pacificação desandou de vez, ele relembrou episódios classificados como de violência verbal e psicológica, “por esse grupo de pessoas”, contra a mãe e a esposa dele . Nada justifica a violência, ainda mais em um caso contra a mulher. Dito isto, também precisa ser esclarecido o fato de a funcionária supostamente ter levado uma ferramenta para a Casa do Povo, qual seria o intuito, em um dia que todos sabiam que seria tenso?

A Câmara tem que mostrar qual será o saldo dessa audiência. Já há o anúncio de uma CPI da Saúde, para investigar possíveis irregularidades na pasta. Vai parar por aí ou tem algo mais em relação ao próprio tema do encontro? Caberia aos deputados apontar a possível irregularidade em um equipamento municipal? Oportunamente, neste mês, o prefeito sancionou uma lei, de autoria do vereador Igor Pereira, líder da oposição, que obriga hospitais, prontos-socorros e unidades básicas de saúde afixarem em quadro informativo, com visibilidade para os pacientes, a escala mensal de trabalho de todos os médicos que trabalham naquela unidade de saúde — mas parece não ter sido suficiente.

Na audiência e nos momentos que a antecederam, as manifestações estavam longe de ser populares. Era nítido que os movimentos eram orquestrados, sob a batuta de cabos eleitorais ligado aos Garotinho e aos Bacellar. Poucas manifestações espontâneas do povo — talvez, nenhuma. E, claro, isso foi mais um ensaio para um ano eleitoral, que tem tudo para não ser dos mais fáceis para ninguém. A despeito das pesquisas de opinião até aqui publicadas, todas com cenário extremamente favorável a Wladimir, o ensaio que foi a audiência pública da desordem urbana mostra que o jogo ainda não começou.