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UFRJ anuncia iniciativas para recuperar mais de 12 mil estudantes que abandonaram seus estudos

Evasão na instituição cresceu após a Covid-19. Do início da pandemia até o fim do ano passado, 12.754 estudantes deixaram a instituição. Mais de 5 mil são cotistas
Imagem: Reprodução

Desde a infância, o jovem Mateus Pereira, de 19 anos, nutria o sonho de se tornar professor. Sem contar com modelos familiares que tivessem alcançado o ensino superior, ele realizou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2021 e conquistou uma vaga no curso de licenciatura em Educação Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Residente em Magé, na Baixada Fluminense, Mateus optou por se mudar para uma república na Cidade Universitária, no Fundão, a fim de participar das aulas. Entretanto, o custo mensal de mil reais e o risco de sua mãe perder o emprego como empregada doméstica o levaram a desistir do curso. Ele lamentou essa decisão, dizendo: “Quis me precaver de uma situação que poderia ser ainda pior. Se tivesse algum suporte financeiro na faculdade para lidar com os custos de moradia mais próxima, a situação seria diferente. Naquela época, me senti sem saída porque estava incerto se conseguiria ou não auxílio financeiro oferecido pela universidade ou uma vaga no alojamento. Então, tomei a decisão que me pareceu mais certa na época.”

A história de Mateus é apenas um exemplo entre muitos compartilhados nos corredores da universidade. Não é incomum ouvir relatos de estudantes que abandonaram seus cursos ou trancaram suas matrículas devido a dificuldades financeiras. Desde o início da pandemia até o final do ano passado, um total de 12.754 estudantes deixaram a UFRJ. Dentre eles, mais de 5 mil ingressaram através de programas de ações afirmativas, ou seja, cotas sociais. O novo reitor da UFRJ, o epidemiologista Roberto Medronho, observa que a evasão na instituição aumentou após o surgimento da Covid-19. Para tentar trazer esses alunos de volta, a atual gestão iniciará uma busca ativa.

Medronho afirma: “Os alunos que ingressaram por meio das ações afirmativas têm um desejo muito forte de concluir seus estudos, pois um diploma pode mudar a vida de suas famílias e comunidades. Se esses alunos desistiram, é porque enfrentaram obstáculos significativos.” Inicialmente, o esforço de busca ativa se concentrará nesses alunos.

Segundo o reitor, o período da pandemia e suas consequências, incluindo o desemprego e as dificuldades financeiras, afetaram esses números, especialmente os cotistas. Por esse motivo, a busca ativa inicialmente se concentrará neles.

Ele explica: “Estamos coletando dados desses alunos para convidá-los a retornar à universidade. A ideia é compreender o motivo de terem desistido do curso, seja uma questão pessoal ou relacionada à vulnerabilidade social e econômica. Nosso objetivo é criar recursos para que eles possam continuar na UFRJ, já que eles já superaram a etapa mais difícil, que é ingressar na instituição.”

Durante a pandemia, quando as aulas eram realizadas online, a universidade emitiu uma resolução que evitava a reprovação por faltas, a fim de evitar o cancelamento de matrículas. No entanto, quando as atividades presenciais foram retomadas no segundo semestre do ano passado, houve um aumento acentuado na evasão. Enquanto no primeiro semestre 487 alunos deixaram a universidade, no segundo semestre esse número aumentou para 3.360. O reitor observa que esses números ainda precisam ser analisados, uma vez que é necessário considerar o acumulado dos meses em que o cancelamento não foi permitido. No entanto, mesmo considerando esses fatores, o aumento na evasão foi considerado acima do padrão.

A UFRJ adotará duas estratégias principais para resgatar e manter os alunos que deixaram a instituição. A primeira é solicitar um aumento de recursos financeiros do governo federal para disponibilizar mais bolsas de estudo. Além disso, a universidade planeja criar mais oportunidades para que esses estudantes possam conseguir estágios na iniciativa privada.

Um estudante de Astronomia de 21 anos, que preferiu não se identificar, está à beira de abandonar a faculdade. Residente em Volta Redonda, no interior do estado, ele ingressou no curso por meio de cotas sociais e é de raça negra. Desde julho do ano passado, ele trancou sua matrícula devido à falta de recursos financeiros para continuar frequentando as aulas. Para se mudar, ele colocou suas roupas em um saco de lixo e pegou uma carona até o Rio. Na universidade, ele fazia de tudo para sobreviver, inclusive comer e tomar banho nas dependências da instituição, mas ainda assim não foi suficiente. Ele compartilhou: “O problema não é apenas o dinheiro ou a infraestrutura, mas a falta de informações para quem vem de longe, seja geograficamente, socialmente, racialmente ou culturalmente. A universidade poderia nos acolher melhor, esclarecendo nossos direitos e apresentando as oportunidades disponíveis.”

Atualmente, a UFRJ oferece oito tipos diferentes de auxílio financeiro para os estudantes, incluindo bolsas de moradia no valor de R$ 960 e bolsas de permanência no valor de R$ 700. Segundo a instituição, apenas essas duas bolsas, as de maior valor, beneficiam 2.673 estudantes. No entanto, os alunos relatam que aguardam meses para receber o pagamento desses benefícios. Sem ajuda adequada, alguns deles acumulam dois empregos, enfrentam reprovações acadêmicas e acumulam dívidas no cartão de crédito para pagar o transporte e o material necessário para os estudos. Mateus da Silva, de 27 anos, saiu de Jundiaí (SP) para estudar Arquitetura e Urbanismo na UFRJ. Ele conseguiu uma vaga no alojamento da faculdade e recebe auxílio permanência. No entanto, no primeiro período do curso, ele teve que vender um liquidificador e um ventilador para comprar parte do material exigido nas aulas.