Moradores de Volta Redonda, no sul do Rio de Janeiro, enfrentam o acúmulo de um pó emitido pela Companhia Siderúrgica Nacional. O estado deixou de monitorar a emissão desse produto há seis anos. Nesta sexta-feira (14), o Instituto Estadual do Ambiente multou a empresa em R$ 1 milhão.
Uma cidade inteira coberta de fumaça e de poeira. Volta Redonda, no Sul Fluminense, tem a mais antiga siderúrgica do Brasil. Com máquina e equipamentos que não conseguem conter a emissão de poluentes, a CSN é hoje uma grande ameaça à saúde pública da região.
“Essa fonte principal de poluição vem dessa principal indústria, que é a Companhia Siderúrgica Nacional. Alguns estudos que já foram feitos em Volta Redonda, já mostraram que tem uma relação muito clara, uma associação, da poluição do ar com efeitos à saúde”, afirma Marcelo Moreno, pesquisador da Fiocruz.
O pó preto que sai da CSN está por toda parte: nas ruas, dentro das casas. Há um ano, o Jornal Nacional esteve em Volta Redonda e mostrou o teste do imã para confirmar que essa poeira tem origem metálica. Este poluente deixou de ser monitorado pelas autoridades ambientais em 2017 por determinação do Conselho Estadual do Meio Ambiente.
O Inea, Instituto de Ambiente do Estado, informou que o conselho tomou a decisão alegando que não há padrões de monitoramento para este material. Mas o Ministério Público afirma que o poluente é fiscalizado em vários estados e em outros países.
“Em diversos países, como Canadá, e em outros estados brasileiros, como Minas Gerais, Espírito Santo, a gente tem. E no Rio de Janeiro, por conta de uma decisão do órgão ambiental estadual, não há mais monitoramento dessa substância”, explica o promotor de Justiça Leonardo Kataoka.
Agora, o Conselho Estadual do Ambiente informou que haverá uma reunião na segunda-feira (17) para revisar as normas.
Para um casal de idosos, cada minuto importa. Eles enfrentam problemas respiratórios agravados pela poluição.
“Eu tenho asma brônquica e alérgica”, diz a enfermeira Maria Aparecida Rodrigues Lima.
“Eu tenho enfisema pulmonar”, conta o aposentado Mauro Lima.
Para proteger a saúde, eles já foram orientados pelos próprios médicos a deixar a cidade.
Nos dias de vento forte, a situação fica ainda pior. Em maio, o flagrante do lançamento de uma fumaça espessa de cor laranja. A empresa chegou a ser multada pelo o Inea. Segundo o instituto, a CSN não seguiu o protocolo de comunicar imediatamente o incidente.
Muitos moradores de Volta Redonda desconfiam das informações que são compartilhadas 24 horas por dia em equipamentos que revelam a qualidade do ar nos bairros da cidade. As informações compartilhadas com a população têm origem em nove estações de monitoramento da qualidade do ar financiadas pela Companhia Siderúrgica Nacional e chanceladas pelo Inea, o órgão ambiental do estado do Rio.
A engenheira ambiental Renata Martins Parreira identificou falhas nos registros.
“Quando nós tínhamos limite muito próximo dos determinados como ruins ou péssimos de acordo com o Conama e o Inea, essas bases apresentavam inconsistência de dados sequencialmente”, diz.
Tão preocupante quanto a fumaça são as milhares de toneladas de escória, o lixo da siderúrgica que é despejado às margens do Rio Paraíba do Sul. Nesta sexta-feira (14), a CSN foi multada em R$ 1 milhão pelo Instituto Estadual do Ambiente.
O Inea deslocou uma estação móvel de monitoramento da qualidade do ar para Volta Redonda para reforçar as análises dos níveis de poluição.
A ex-ministra do meio ambiente, Izabella Teixeira, que integra uma comissão da Organização Mundial de Saúde sobre a qualidade do ar, diz que é inadmissível o que está acontecendo em Volta Redonda.
“Uma empresa histórica, importante para a economia do país, mas que não se coloca no futuro se não mudar urgentemente as suas práticas de controle e gestão ambiental, mas de relação com a sociedade. É incompreensível que o Brasil tenha ainda isso hoje com a estatura do desenvolvimento e da evolução, não só da legislação ambiental, mas das tecnologias de controle e de eficiência na área da indústria brasileira”, afirma.
A CSN disse que está investindo R$ 700 milhões em equipamentos para aprimorar seus controles ambientais; que até a conclusão das obras em 2024, está adotando medidas para reduzir o impacto da poeira.
O Instituto Estadual do Ambiente disse que enviou uma equipe para fiscalizar as ações tomadas pela CSN; que faz vistorias mensais na montanha de resíduos; e que já emitiu 19 multas nos últimos cinco anos à empresa responsável pelo espaço.