Uma pesquisa inovadora realizada no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, lançou luz sobre a situação da primeira infância na região. Os resultados revelam que 38,2% das crianças já foram expostas a algum tipo de violência, e mais da metade das famílias enfrentou dificuldades para garantir comida na mesa durante a pandemia.
Conduzida pela ONG Redes da Maré, a pesquisa intitulada “Primeira Infância na Maré – Acessos a direitos e práticas de cuidado” concentra-se em crianças com até seis anos de idade. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (27).
A pesquisa envolveu entrevistas com os responsáveis pelas crianças e também com profissionais que trabalham no apoio à primeira infância, como professores, assistentes sociais e profissionais de saúde.
Gisele Martins, coordenadora da Redes da Maré, comentou sobre os resultados: “Com base neste estudo, podemos reforçar a percepção anterior, enfatizando a necessidade de avanços em várias políticas públicas relacionadas aos direitos das crianças, como a ampliação de vagas na educação, com muitas famílias reivindicando vagas em creches, preocupações com a saúde, acesso a espaços públicos para brincadeiras e a questão da violência.”
Os dados revelam que 94% dos principais cuidadores das crianças com até seis anos são mulheres, geralmente mães ou avós, e 74,4% se identificam como pretas ou pardas. Além disso, 68% têm idades entre 20 e 39 anos. Em 24% dos lares, a figura paterna não está presente na rotina da criança.
Quanto à renda, 32,8% têm renda mensal familiar de até um salário mínimo, e 57,4% das famílias não recebem nenhum tipo de auxílio do governo.
Devido à pesquisa ter sido realizada durante a pandemia da Covid-19, foi observado que 54,1% das famílias entrevistadas enfrentaram dificuldades relacionadas à alimentação durante esse período. Em 11,8% dos casos, algum membro da família deixou de comer ou pulou refeições para garantir que as crianças tivessem o suficiente para comer. Surpreendentemente, 38,2% dos entrevistados afirmaram que as crianças sob seus cuidados testemunharam algum tipo de violência, apesar de sua tenra idade.
A pesquisa também ressaltou a falta de acesso a instalações públicas de lazer, cultura e esporte, com 59,8% dos entrevistados indicando que as crianças de suas famílias não tinham acesso a essas atividades.
Além disso, a pesquisa destacou a falta de acesso a equipamentos públicos de saúde, com 64,6% das famílias relatando dificuldades no acesso direto à assistência médica e a equipamentos públicos nas comunidades.