Foi revelado pelo governo um relatório contendo uma série de recomendações voltadas para a erradicação do racismo no âmbito esportivo. Esse documento resulta do trabalho de um grupo técnico, formado por membros dos ministérios do Esporte, da Igualdade Racial e da Justiça e Segurança Pública, que foi criado em junho com esse propósito.
Este grupo, cujos especialistas elaboraram as diretrizes presentes no relatório, concentrou seus esforços na formulação de ações destinadas às entidades esportivas, aos atletas, às torcidas e ao sistema judiciário.
Uma das iniciativas propostas é a celebração de um acordo de cooperação técnica entre o Ministério da Justiça e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Essa parceria visa implantar uma ferramenta nos estádios, permitindo que as autoridades governamentais identifiquem os autores de atos racistas durante os jogos de futebol.
Marivaldo Pereira, o Secretário de Acesso à Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública, esclareceu que a intenção não é somente punir, mas também inibir a prática. O uso dessa tecnologia já demonstrou que a possibilidade de identificação e as consequências dos atos cometidos tendem a dissuadir os criminosos.
O teste piloto da ferramenta foi realizado no Maracanã, no Rio de Janeiro, e espera-se que o acordo seja finalizado ainda este mês.
Outras ações estão no horizonte. A ministra do Esporte, Ana Moser, anunciou que diversas propostas sugeridas pelos especialistas serão implementadas no segundo semestre. Isso inclui a criação de bandeirões em colaboração com a Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg), a instituição de selos e prêmios para entidades esportivas antirracistas e a coleta de dados sobre o racismo nas atividades esportivas.
A ministra destacou o papel do esporte como espelho dos comportamentos e sentimentos da sociedade, enfatizando sua influência como vetor de comportamento.
Outras medidas recomendadas pelo grupo técnico abrangem a criação de espaços para manifestações por parte dos atletas, o fornecimento de apoio psicológico para os esportistas negros, a promoção de debates e a publicação de guias direcionados aos torcedores. Além disso, a sugestão de estabelecer uma Autoridade Nacional para Prevenção e Combate à Violência e à Discriminação no Esporte ou uma entidade similar. O relatório também ressalta a importância de dispositivos antirracistas no esporte amador, de lazer e escolar.
O grupo de especialistas planeja prorrogar seus trabalhos por 45 dias. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, enfatizou que as ações do Programa de Combate ao Racismo no Esporte terão um impacto amplo, envolvendo crianças, jovens, atletas e treinadores que enfrentam o preconceito e a discriminação diariamente.
Anielle Franco destacou a necessidade de criar condições para que todos, independentemente do acesso, possam permanecer nesses espaços esportivos. Ela sublinhou que o combate ao racismo no esporte não deve se limitar a campanhas e seminários, mas deve resultar em ações concretas que englobem o estudo, a aplicação das leis e a colaboração entre ministérios, bem como a escuta dos envolvidos.