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PATAA: projeto terapêutico com gatos no Instituto Nise da Silveira

Foto: Reprodução Prefeitura do Rio

O Instituto Nise da Silveira, antigo manicómio no Engenho de Dentro, que pertence a Secretaria Municipal de Saúde, hoje é um lugar para resgatar memórias e promover arte, esporte, cultura e, principalmente, saúde mental. Pioneira no tratamento humanizado para pacientes com transtornos mentais e apaixonada por gatos, a médica psiquiatra que dá nome ao instituto inspirou, há quase dois anos, a criação do Polo de Atividades Terapêuticas Assistidas com Animais – PATAA. O projeto, idealizado por profissionais do instituto, tem o objetivo de agregar cuidados terapêuticos ao amor pelos animais, dando inclusive acolhimento a gatos abandonados, que ganharam casa, carinho e uma importante função na saúde.

Nise da Silveira acreditava na potência dos animais como tratamento terapêutico e os via como uma forma de estimular manifestações de afetividade, principalmente em pessoas em sofrimento mental. O vínculo com os animais ajuda a aliviar o estresse e também aumenta a capacidade de interação, sobretudo de pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) com outros indivíduos. A partir das interações com os gatos no local, eles conseguem criar vínculos afetivos com os profissionais e outros usuários, além de estabelecer uma relação de maior confiança para conversar e se abrir fora do ambiente de consultório, como explica uma das idealizadoras do projeto, a psicóloga Valéria de Leoni.

– A partir da rotina com os gatos, os pacientes conseguem interagir melhor com a gente. Os usuários conseguem estabelecer um vínculo a partir do animal e só nessa interação que eles conseguem ficar à vontade. Talvez se o animal não estivesse ali, não conseguiriam se abrir tanto. O gato promove espontaneidade, num ambiente mais lúdico e informal, por isso a maioria do nosso cronograma é espontâneo. A gente ama os animais, isso é o que nos une nesse projeto, o nosso amor pelos bichos e o cuidado em saúde mental.

A psicóloga lembra ainda que no terreno do instituto, que foi uma antiga fazenda no século XIX, há muitos gatos abandonados, que foram se reproduzindo e formando uma grande colônia. Funcionários e grupos de protetores ajudam na alimentação, o que ainda se mostra insuficiente diante do grande número de animais no local. Os gatos do PATAA foram resgatados nessa colônia, passaram por cuidados veterinários, foram vacinados e castrados e, hoje, além de abrigo, alimentação e cuidados, recebem carinho das profissionais de saúde e dos pacientes. O projeto ainda estimula a adoção e, durante o período em que esperam uma família, os animais são estimulados a interagir com os pacientes com o viés terapêutico.

Thaynara Leal frequenta há um ano o PATAA com a irmã, Beatriz, de 13 anos, que tem diagnóstico de TEA e deficiência intelectual e é acompanhada pelo Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi) Maria Clara Machado. De acordo com Thaynara, os médicos já haviam sugerido a terapia com animais, mas até conhecer o projeto não tinha conhecimento sobre esse cuidado. Hoje, ela acompanha a evolução da irmã nas relações e no contato com outras pessoas, impactando também no convívio com familiares e amigos. Emocionada, Thaynara conta que a interação com os animais no PATAA auxiliou a irmã a interagir melhor com as pessoas e fazer amigos.

– A Beatriz teve uma evolução muito grande nas questões cognitivas, de desenvolvimento e no contato com outras pessoas. Eu me emociono ao vê-la aqui confortável, brincando e interagindo. Além disso, comecei a olhar para a questão dos animais de outra forma. O PATAA tem isso: a questão do cuidado em rede e traz uma mensagem muito linda. É um projeto que fez toda a diferença na minha vida e na vida da Beatriz, principalmente. Eu lembro perfeitamente o primeiro dia dela no projeto, brincando com os gatinhos. Foi muito emocionante! Sou muito grata a toda a equipe.

Acreditando que todos podem se beneficiar desse cuidado, o local funciona de portas abertas e, além de pacientes dos CAPSi e do ambulatório de saúde mental, recebe também grupos de adolescentes de escolas da região, que se interessam e buscam o projeto como lugar de tranquilidade e acolhimento. Além da interação com os animais, o local promove atividades, oficinas, coleta de materiais recicláveis e também a adoção de animais. Para adotar, a pessoa deve preencher uma ficha no local e apresentar documentação com foto.