Embora ainda seja muito alta, a desigualdade global não era tão baixa desde o final do século 19. O índice de Gini mundial é o menor em 125 anos. Ele despencou de 70 para 60 nos últimos 20 anos. Ao mesmo tempo, aumentou a desigualdade dentro de grandes países como Estados Unidos, Índia, Rússia e na maior parte da Europa.
O principal motor da queda da desigualdade global nessas duas décadas foi o crescimento da China, que tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza nas últimas décadas. Mas é improvável que essa tendência global rumo a uma menor desigualdade se mantenha por muito mais tempo. Por vários motivos:
- O crescimento chinês desacelerando
- À medida que enriquecem, menos chineses deixam de fazer parte da base da pirâmide de renda global e, portanto, a melhora de sua condição deixa de diminuir a desigualdade no mundo
- A desigualdade dentro da China está crescendo
A renda média de um chinês em 1988 o colocava na metade de baixo da tabela mundial, entre os 45% mais pobres do mundo. Hoje, esse mesmo chinês médio está entre os 70% mais ricos.
Tão significativo quanto isso, os chineses estão ocupando o topo da pirâmide global de renda. Se o país continuar crescendo três pontos percentuais anuais a mais que os EUA, em duas décadas haverá tantos milionários chineses quanto americanos. Isso vai mudar a balança de consumo e de comportamento, com impactos culturais profundos.
O coeficiente de Gini varia de 0 a 100 e, quanto menor, melhor, sendo atribuído zero ao cenário em que todos tenham a mesma renda e 100 se um único indivíduo concentrasse toda a renda. No índice global, a comparação é entre as rendas dos países, enquanto o nacional considera a dos cidadãos.
Expectativa de desaceleração
Após o índice de Gini despencar 10 pontos nos últimos 20 anos, a expectativa é que, com crescimentos mais modestos do PIB chinês, a queda não continue. A esperança para a tendência ser mantida é que a Índia, país mais populoso do mundo, passe por um processo de crescimento econômico semelhante ao chinês, ou que a África saia da pobreza majoritária que sua população enfrenta hoje.
Turbulência política, polarização e crescimento da extrema-direita
A mudança de patamar econômico da população chinesa ajuda a explicar o atual contexto global. A população de classe média da Europa e dos Estados Unidos passou a ter mais dificuldades econômicas e acabou perdendo frente a outros segmentos do mundo. Isso ajuda a explicar a turbulência política, a polarização e o crescimento da extrema-direita em muitos países.
Desigualdade diminuiu no Brasil
Seguindo a tendência global, a desigualdade também diminuiu nos últimos anos e hoje está pouco acima de 50 pontos, abaixo da média global que é de 60. Apesar de ainda estar longe de ser um país igualitário, essa queda na desigualdade aconteceu, sobretudo, devido aos programas de distribuição de renda como o Bolsa Família.