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Arqueóloga carioca ganha prêmio internacional pelo achado do Cais do Valongo

Em 2011, Tania Andrade Lima conduziu escavações que revelaram o sítio arqueológico, hoje Patrimônio Mundial da Unesco
Imagem: Reprodução

A arqueóloga Tania Andrade Lima recebeu o prestigioso Hypatia Award 2023 da Confederação dos Centros Internacionais para a Conservação do Patrimônio Arquitetônico (CICOP Net) em reconhecimento aos seus notáveis serviços prestados à Arqueologia, à História e ao Patrimônio Cultural da Humanidade. Tania, natural do Rio de Janeiro, ganhou destaque por sua descoberta do Cais do Valongo, uma contribuição que teve um impacto significativo na reescrita da história da escravidão nas Américas, especialmente no Brasil.

Em 2011, Tania liderou escavações na Zona Portuária, onde revelou os vestígios do Cais do Valongo. Estima-se que esse antigo cais de pedra tenha sido o ponto de desembarque de aproximadamente um milhão de africanos escravizados. A importância dessa descoberta levou à sua designação como Patrimônio Mundial pela UNESCO em 2017.

Tania Andrade Lima é a segunda brasileira a receber o prestigioso Hypatia Award na área da arqueologia, após Niède Guidon em 2020, que foi homenageada por sua dedicação à criação e conservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, também reconhecido como Patrimônio da Humanidade.

Arqueóloga Tânia Andrade de Lima – Imagem: Reprodução

Para Tania, esse reconhecimento representa uma poderosa demonstração de que uma parte significativa da humanidade rejeita o preconceito racial e ajuda a combater a crescente intolerância racial que tem se manifestado não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Ela enfatizou que o sítio arqueológico do Cais do Valongo destaca até que ponto o ódio e o desprezo podem levar quando se trata da diferença entre as pessoas, ultrapassando todos os limites da intolerância e da crueldade humana.

Tania Andrade Lima é uma pesquisadora sênior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de professora aposentada do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela também fundou e coordenou o Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, onde ainda orienta teses e dissertações e ministra disciplinas. Sua notável carreira incluiu cargos de presidente e vice-presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira, bem como sua participação em conselhos editoriais de revistas científicas no Brasil, América do Sul e Europa. Tania recebeu várias honrarias ao longo de sua carreira, incluindo a Comenda da Ordem do Mérito Cultural, concedida pelo presidente Lula em 2006, e o Prêmio Globo “Faz Diferença” na categoria Rio em 2016.

Ela é uma das dez personalidades homenageadas com o Hypatia Award, que celebra indivíduos que contribuem significativamente para o avanço do conhecimento científico em suas respectivas áreas de atuação. A cerimônia de premiação está marcada para ocorrer em 16 de outubro, durante a abertura da 6ª Bienal de Restauro Arquitetônico e Urbano (BRAU6), na cidade de Florença, Itália.

Além de Tania, outro brasileiro que receberá a honraria é o padre Júlio Lacellotti, reconhecido por sua luta contra a arquitetura hostil que impede pessoas em situação de rua de se abrigarem em espaços públicos e por seu apoio a projetos urbanísticos inclusivos.

Patrimônio O Cais do Valongo foi descoberto em 2011, durante as fases iniciais do projeto Porto Maravilha de revitalização da Zona Portuária do Rio de Janeiro. O local foi construído em 1811 pela Intendência Geral de Polícia da Corte do Rio de Janeiro com o objetivo de transferir o desembarque e o comércio de africanos escravizados da Rua Direita, que hoje é conhecida como Rua Primeiro de Março. Esses africanos eram enviados para as plantações de café, tabaco e açúcar do interior do estado do Rio de Janeiro e de outras regiões do Brasil. Estima-se que entre 500 mil e um milhão de escravizados tenham passado pelo Cais do Valongo até 1831, principalmente vindos de portos localizados nas áreas que hoje correspondem a Angola e Moçambique.

Desde sua inclusão na lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO em 2017, o Cais do Valongo tem uma conexão profunda com a história da escravidão no Brasil e é reconhecido como o maior porto receptor de africanos escravizados em todo o mundo. Mesmo após a proibição do tráfico negreiro em 1831, o local continuou a ser um importante ponto de compra e venda de pessoas. As escavações de 2011 revelaram um terreno de quatro mil metros quadrados, de onde foram recuperados inúmeros artefatos de origem africana, como contas de colares, búzios, brincos e pulseiras de cobre, cristais, peças de cerâmica, anéis de piaçava, figas, cachimbos de barro, materiais de cobre, âmbar, corais e miniaturas usadas em rituais.

Em 2012, a Prefeitura do Rio de Janeiro atendeu à sugestão das Organizações dos Movimentos Negros e transformou o local em um monumento preservado e aberto à visitação pública. O Cais do Valongo passou a fazer parte do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, que destaca marcos da cultura afro-brasileira na Zona Portuária, incluindo o Jardim Suspenso do Valongo, o Largo do Depósito, a Pedra do Sal, o Centro Cultural José Bonifácio e o Cemitério dos Pretos Novos.

Localizada entre os bairros da Gamboa, Santo Cristo e Saúde, essa região compreende a chamada Pequena África, que foi habitada principalmente por uma população negra, cuja história está profundamente ligada ao tráfico de escravizados, à diáspora africana e à origem do samba.

Desde 21 de março deste ano, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, está coordenando o Comitê Gestor do sítio arqueológico do Cais do Valongo. Esse comitê é responsável por estabelecer diretrizes e monitorar as ações de preservação e salvaguarda desse importante patrimônio cultural e é composto por 15 instituições representativas da sociedade civil e 16 governamentais, que atuam nas esferas federal, estadual e municipal.