Um dos lances polêmicos da vitória por 2 a 0 do Flamengo sobre o Athletico-PR na quarta-feira, em Curitiba, o gol anulado de Gabigol no segundo tempo foi alvo de análise detalhada por parte da Comissão de Arbitragem da CBF. Com o auxílio de dois árbitros, Wilson Luiz Seneme, presidente da comissão, explicou o lance em vídeo divulgado nesta quinta.
Atual gerente técnico do VAR na comissão da CBF, o ex-árbitro Péricles Bassols detalhou como foi feito o traçado em conversa com Seneme.
– Assim o Guarizo (Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral/Fifa-SP, árbitro de vídeo do jogo) fez ontem (quarta). A bola está calibrada no momento do passe, e eu preciso identificar os jogadores. O defensor (Thiago Heleno) tem a ponta do pé mais próxima da linha de fundo. Então essa é a nossa referência. A gente vai encostar a base na lateral do pé e encostar a linha um pouquinho mais para a esquerda. Esse é o momento e o ponto. Sobe a linha e um pontilhado azul para identificar o pé. Nesse momento, a gente vê que o jogador de branco (Gabigol) aparenta estar desse lado da linha que foi pintada na tela, mas a gente tem que terminar o traçado dela. Então vou colocar o traçado no atacante – relata Bassols.
O presidente da comissão de arbitragem entende que Gabigol e torcedores se precipitaram ao comemorar o gol enquanto a revisão do lance era exibida no telão da Arena da Baixada. Seneme ainda afirma que o “corpo inclinado tem tendência a enganar o visual”.
– Uma coisa bastante importante é que havia comemoração. Houve uma comemoração como se não estivesse impedido, mas todas as pessoas, desde jogadores e torcedores que estão no estádio e assistindo pela televisão, têm que esperar o momento final do traçado da segunda linha, porque esse corpo inclinado tem uma tendência a enganar o visual. Quando a gente colocar a segunda linha é que se tem um resultado. Antes disso não é possível comemorar – prosseguiu Seneme.
Bassols passa à fase final de análise do posicionamento de Gabigol com base no ombro.
– A gente vai para o término do processo, que é identificar qual ponto do jogador branco está mais próximo da linha de fundo. E a gente identifica por essa imagem, que é o que o Guarizo fez ontem, que é o ombro. Então nós vamos no ombro e de novo temos que subir a base. Vamos encostar no ombro dele. Não é o braço, é a lateral do braço, como a regra prevê.
Seneme, com a referência da camisa que está usando no vídeo localizado no topo desta reportagem, explica como deve ser feito o traçado em cima daquela região do corpo.
– Existe uma confusão muito grande. Normalmente as pessoas pensam que a referência do ombro é a faixa branca da minha camisa (veja no vídeo no topo da matéria) é a referência do ombro, mas não é. A regra claramente demonstra que no final da axila eu tenho que traçar uma linha horizontal. Essa linha abrange a área do final do braço do jogador. O ombro não é na costura da camisa, o ombro é toda a região, inclusive uma parte do braço como referência. Isso é muito importante. A linha é traçada na parte superior da axila.
Bassols garante que não se trata de “lance ajustado”.
– Vamos terminar o processo. A gente escolheu o ombro, como o Guarizo fez ontem. Pode confirmar a linha e subi-la na referência que ele escolheu. Confirma as duas linhas para mim. O gráfico mostra que é offside, que é impedimento. Não é um lance ajustado. É um lance com certo espaço.
Seneme diz ainda que, independentemente da câmera utilizada, o resultado seria o mesmo.
– O importante é que a gente saiba, que independentemente das câmeras, o resultado é o mesmo. Elas estão calibradas. Eu, como membro de comissão de arbitragem da Fifa, participei de todos os processos de aprovação dessa ferramenta. Ela tem a chancela da Fifa e é utilizada no mundo todo.
– Em resumo da jogada que a gente viu, o objetivo foi demonstrar a questão da linha do braço, que pega o final do braço no alto. E também todo esse processo que as linhas são calibradas antes do jogo. E que independentemente da câmera que o VAR utilize para traçar, o resultado final será igual com 100% de garantias.