Em depoimento à Polícia Federal, onde ficou por mais de duas horas, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou ter se reunido com o senador Marcos do Val (Podemos-ES) e com o ex-deputado federal Daniel Silveira, em 8 de dezembro do ano passado, mas negou ter aventado planos de gravar o ministro Alexandre de Moraes ou de ter tratado qualquer iniciativa fora das “quatro linhas da Constituição”. Bolsonaro prestou depoimento em investigação da PF sobre declarações de Do Val em entrevistas e lives acerca de uma trama contra Moraes.
Esta é a quarta oitiva de Bolsonaro na PF este ano. O processo no qual Bolsonaro foi intimado a prestar esclarecimentos à PF apura suposto plano para gravar, clandestinamente, Moraes, em tentativa de reverter a derrota do ex-presidente nas últimas eleições. Na condição de testemunha, Bolsonaro respondeu a todas as perguntas sobre as declarações de Marcos do Val.
Logo após a oitiva, Bolsonaro falou à imprensa e confirmou o que disse à PF. Ele revelou que, “dia 9 ou 10 de dezembro, logo após aquela reunião comigo e Marcos do Val, eu respondi para ele: ‘coisa de maluco’. Eu não tinha vínculo com sr. Marcos do Val. Nada foi tratado. Não tinha nenhum plano para gravar o ministro Alexandre de Moraes”, disse.
O ex-presidente também destacou que Do Val quis demonstrar algum grau de amizade com Moraes. “Tudo começou por aí. Houve o contato de Daniel Silveira, que Do Val queria falar comigo assunto importante. O Daniel Silveira queria que o Marcos do Val falasse alguma coisa, mas ele não falou nada. Não sei qual foi o contato do Daniel com o Do Val. O que eu tinha de conhecimento é que eles não tinham relacionamento”, acrescentou.
Bolsonaro confirmou que a reunião com Silveira e Do Val foi no Palácio da Alvorada. E disse que o ministro Alexandre de Moraes jamais foi citado.
O ex-presidente deu a entender que as questões relacionadas com Do Val não devem ser levadas a sério. “Não vou falar se ele inventou. Foi levado ao Alvorada pelo Daniel Silveira porque disse que queria conversar comigo”, acrescentou.
Bolsonaro comentou sobre a quantidade de depoimentos dados à PF e que poderão acontecer mais, citando a busca e apreensão em sua casa, na situação relacionada com os cartões de vacina. “É um ato de esculacho. Fizeram até busca e apreensão na minha casa”, disse.
Na manhã desta quarta (12), o senador Marcos do Val negou envolvimento com qualquer plano golpista e afirmou ter “apreço pela democracia”. Os relatos de Marcos do Val sobre a suposta reunião com Bolsonaro e Silveira contêm diversas contradições.
Em entrevista à revista Veja, concedida em 1° de fevereiro deste ano, o senador afirmou ter ouvido diretamente do então presidente detalhes do plano para gravar Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Numa segunda versão, o parlamentar afirma que Bolsonaro teria ficado calado e que coube a Daniel Silveira repassar os detalhes do esquema.
Áudio da conversa divulgado pela revista mostra que Marcos do Val é perguntado se o próprio Bolsonaro pediu para que a gravação ilegal fosse feita. Ele responde que “sim”.
“Disse, sim. Que o GSI ia me dar o equipamento para poder montar para gravar. Aí eu falei assim, quando eu falei que ‘mas não vai ser aceito’. ‘Não, o GSI já tá avisado’. Quer dizer, já tinha validado a fala comigo. ‘Eles vão te equipar, botar o equipamento de escuta, de gravação e a sua missão é marcar com o Alexandre e conduzir o assunto até a hora que ele falar que ele, que ele avançou, extrapolou a Constituição, alguma coisa nesse sentido.’ Aí ele falou ‘ó, eu derrubo, eu anulo a eleição, o Lula não toma posse, eu continuo na Presidência e prendo o Alexandre de Moraes por conta da fala dele, que ele teria’”, explicou na gravação.
Em live transmitida no dia 2 de fevereiro, Marcos do Val disse ter sido coagido por Bolsonaro a “dar um golpe de Estado junto a ele”.