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Alerj homenageia ícones do cinema nacional e lança frente parlamentar de fomento do audiovisual

A cerimônia homenageou e premiou Zezé Motta, Luís Carlos Barreto, Lucy Barreto e Bruno Wainer. A Alerj lançou também a Frente Parlamentar de Fomento do Audiovisual,
Foto: Reprodução/Alerj

No dia em que o Cinema Brasileiro completa 125 anos, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) homenageou nesta segunda-feira (19) grandes nomes que fazem a história da Sétima Arte do país. O plenário do Palácio Tiradentes, sede histórica do Parlamento fluminense, serviu de “locação” para premiar Zezé Motta, Luís Carlos Barreto, Lucy Barreto e Bruno Wainer com os Prêmios Dandara, José de Alencar e Heloneida Stuart.

Na ocasião, a Alerj lançou também a Frente Parlamentar de Fomento do Audiovisual, que foi publicada no Diário Oficial desta segunda e será composta por seis deputados: Munir Neto (PSD), Luiz Paulo (PSD), Dani Balbi (PCdoB), Dani Monteiro (PSol), Martha Rocha (PDT) e Célia Jordão (PL). Com objetivo de desenvolver o segmento de audiovisual no estado, além de democratizar, interiorizar e promover sua inclusão, a frente quer devolver ao Estado o papel de protagonista na produção do cinema brasileiro.

“A missão desta frente é, juntamente com todos os setores do mercado audiovisual e o poder executivo, restabelecer o Estado do Rio como potência criativa nacional e mundial”, justificou Munir Neto, responsável pela idealização do evento e criação da Frente – ele será o presidente do grupo.

Homenageados

A atriz Zezé Motta foi agraciada com o Prêmio Dandara, destinado a personalidades que contribuem para a valorização da mulher negra afrodescendente, latino-americana e caribenha no estado. A artista de 78 anos já estrelou novelas como Xica da Silva (1997), O Outro Lado do Paraíso (2018) e Sinhá Moça (1996). Em sua fala, Zezé aproveitou para cantar um trecho da música “Minha missão”, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro.

“Esses prêmios são sempre bons porque representam o reconhecimento do nosso trabalho e um incentivo para que a gente continue na luta eterna pelo cinema nacional, que balança mas não morre. Dedico a música ‘Minha missão’ ao cinema nacional, que cumpre sua trajetória com dignidade”, discursou.

Uma das homenageadas, a atriz Zezé Motta. Foto: Reprodução/Alerj

O distribuidor Bruno Wainer foi agraciado com o Prêmio José de Alencar, que é destinado a personalidades que tenham contribuído para o desenvolvimento econômico do Estado do Rio. Ele é o fundador da Downtown Filmes, a única distribuidora dedicada exclusivamente a filmes nacionais. Entre os sucessos da empresa, está o sucesso de bilheteria “Minha Mãe é uma Peça”, que levou o ator Paulo Gustavo ao estrelato. A distribuidora acumula números relevantes desde sua fundação: 157 filmes lançados, 139 milhões de ingressos vendidos; 75% do marketing share nacional.

“Na minha profissão a gente luta contra as grandes corporações internacionais, é uma luta de Davi contra Golias. Vale ressaltar que quando um filme brasileiro faz sucesso, está gerando empregos e receitas aqui no país. Viva o cinema nacional!”, celebrou.

Bruno Wainer foi agraciado com o Prêmio José de Alencar. Foto: Reproduão/Alerj

Com 60 anos de carreira, o casal de diretores Luís Carlos Barreto e Lucy Barreto receberam o Prêmio Heloneida Studard de Cultura, destinado a homenagear quem se destaca na promoção da Cultura de nosso Estado. À frente das produtoras L.C. Barreto e Filmes do Equador, o casal tem em seu currículo sucessos como Vidas Secas (1963), Dona Flor e seus Dois Maridos (1976) e O Quatrilho (1995), indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1996.

“É no tempo livre em que o ser humano forma a consciência, o conhecimento e a visão de mundo. A produção cultural é um dever de cada Governo federal, estadual e municipal. As políticas públicas devem visar exatamente à consciência do cidadão, contra preconceitos e adversidades. A cultura liberta o imaginário do ser humano”, disse Barreto, de 95 anos.

Já Lucy, de 90 anos, citou o privilégio de receber um prêmio com o nome de Heloneida Studart. “Eu fico mais grata ainda por essa homenagem ter o nome de uma amiga, que muito me ajudou na minha vida profissional. Ela deixa saudades. O cinema brasileiro está mais vivo do que nunca”, disse.

O casal de diretores Luís Carlos Barreto e Lucy Barreto receberam o Prêmio Heloneida Studard de Cultura. Foto: Reprodução/Alerj

Frente do Audiovisual já começa a atuar

Em meio às homenagens, a criação pela Alerj da Frente do Audiovisual foi destacada pela maioria dos presentes à solenidade e o colegiado já nasce com um conjunto de propostas de fomento ao audiovisual fluminense. Através de conversas com o segmento, como a Associação Brasileira de Autores Roteiristas, a Firjan, o Sindicato da Indústria Audiovisual, a Associação dos Distribuidores Brasileiros e a Brasil Audiovisual Independente, deputados começam a elaborar projetos de lei, como o que cria a Cota de Tela Fluminense, para garantir espaço de exibição aos filmes brasileiros nos cinemas do estado. Um outro projeto também cria o Programa de Apoio ao Cinema Fluminense em Mostras, Festivais e Premiações.

O deputado Luiz Paulo, que presidiu a solenidade, ressaltou que a primeira experiência de cinema aconteceu em solos fluminenses e que a indústria audiovisual deve ser valorizada no nosso estado. “Essa homenagem mostra que o cinema brasileiro está vivo, produtivo, e tem uma longa história de resistência. O Parlamento fluminense considera que a cultura é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do nosso estado, por isso deve ser apoiada de forma combativa, inclusive com a criação da frente parlamentar”, acrescentou o deputado.

Presente no evento, a secretária estadual de Cultura e Economia Criativa, Danielle Barros, ressaltou que a Alerj vem apoiando o segmento. “Fico animada em olhar para frente e ver que a cultura vem pautando essa Casa Legislativa, como foi o caso da audiência pública sobre a Lei Paulo Gustavo. Nosso Estado não pode ser conhecido somente por ser vanguardista, temos que realmente trabalhar para que o segmento volte a ser o que era. Por falta de recursos, a gente deixa de fazer coisas novas para manter salas já existentes no interior, por exemplo”, frisou.

Foto: Reprodução/Alerj

Para o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual e vice-presidente de Economia Criativa da Firjan, Leonardo Edde, a cultura tem um grande impacto na economia fluminense. “Essa frente vem para alavancar o estado do Rio que, desde muito tempo, é considerado um destino cinematográfico no mundo e veio perdendo seu espaço. A indústria criativa impacta positivamente quase 70 segmentos da economia, é a que mais emprega jovens de 15 a 29 anos no mundo inteiro. E num estado como o Rio de Janeiro, essa indústria chega a 5% do PIB, ou seja, é uma indústria multiplicadora de emprego e renda”, pontuou.

Presidente da Comissão de Cultura, a deputada Verônica Lima (PT) lembrou que é dever do Estado oferecer acesso à cultura. “O Estado brasileiro sempre foi um tambor de ressonância da cultura no Brasil, mas nos últimos anos vinha sendo muito atacado. Agora, com a retomada do Ministério da Cultura, que terá um aporte financeiro de R$ 10 bilhões, o segmento volta a respirar. É importante contarmos com o reforço da Frente Parlamentar do Audiovisual.” revelou.

Também integrante tanto da Comissão de Cultura, quanto da Frente Parlamentar, a deputada Dani Balbi, que já trabalhou como roteirista de cinema, ressaltou o papel da produção audiovisual na valorização das diversas realidades do nosso país. “O cinema nacional vale por si só no sentido que reflete as contradições que colorem o Brasil e o nosso povo na sua diversidade. O cinema tem como princípio formador a produção do contraste, especialmente no Rio de Janeiro. É fazer com que essa realidade seja mais ampla que outras vozes, ora silenciadas, sejam retratadas como o coração de um Brasil pulsante e plural”, apontou.