Até o dia 31 de agosto, as empresas brasileiras poderão se cadastrar em um projeto piloto para testar o formato de quatro dias de expediente, por meio de uma iniciativa da entidade Reconnect Happiness at Work. A proposta chama a atenção, especialmente em tempos em que os modelos de trabalho são muito debatidos: quatro dias de jornada, sem redução de salário e de produtividade.
Para Marcelo Reis, especialista em gestão empresarial e CEO da MR16, existe uma complexidade em se implementar a modalidade: “O mundo opera em uma rotina de cinco dias semanais,alguns setores, como o varejo, funcionando também aos fins de semana. Com essa redução, é importante ter em mente o impacto não só aos colaboradores, mas também na cadeia toda”.
No seu entendimento, a medida precisaria de um esforço de alinhamento global, envolvendo empresas, governo e sociedade: “Uma redução de dias de trabalho em uma companhia pode afetar o funcionamento de outras, que dependem das atividades da primeira”.
Desafios dentro das organizações
Além dessa visão geral, a mudança representa desafios também sob uma perspectiva interna, alterando os fluxos em um negócio: “É preciso organizar todos os setores da empresa, assim como fornecedores e clientes, para direcionamentos similares, garantindo que, mesmo com a redução, as metas sejam alcançadas”, aponta Reis.
Outro ponto é o financeiro, pois a necessidade de contratar mais pessoas pode existir, especialmente a fim de suprir as horas retiradas: “Para que a firma continue traçando metas financeiras e institucionais, é importante haver mais colaboradores nesse momento de transição”. Reis aponta, ainda, a necessidade de uma conversa entre acionistas e com a sociedade em geral, pois pode existir redução de faturamento e, por consequência, demissões.
Mudança é mais complexa do que aparenta
O especialista lembra que a semana de quatro dias requer um alto nível de eficiência e assertividade, porque a mudança não envolve apenas horas, mas também diversos processos a serem revistos: “Não é algo simples e não se aplica a todos os setores. Como reduzir a carga horária de bancos e supermercados, por exemplo?”. Reis aponta que a modalidade faz sentido para os setores administrativos dentro das empresas e outros segmentos, como turismo e lazer, podem se beneficiar com a novidade, desde que os salários se mantenham: “É uma equação complicada, não é algo a ser resolvido de forma unilateral”, conclui.