Ele é teimoso, bem pertinente à idade, não muda seus hábitos, mas sim adapta algumas maneiras de atuar. Vez por outra surgem alguns “doutores” com fórmulas mágicas, segredos para longevidade… Alguns ele até aceita, mas sempre deixa o alerta:
– Se não funcionar, vocês serão obrigados a fazer do meu jeito…
Dessa centena de primaveras, participo do dia a dia do rádio há quase trinta e seis. Já o conhecia desde meus primeiros passos, mas começamos a caminhar juntos quando ele já era quase um setentão. Ainda era um galã daqueles de “filmes” antigos, cheio de glamour, voz absoluta e não era para qualquer um que ele abria sua intimidade. Ainda meio desconfiado, se tornou meu grande companheiro.
Preciso fazer um adendo rápido para explicar de onde vem a minha relação com o rádio: se mistura com a história de alguém que eu amo muito: o meu avô, Luiz De França. Pra mim, com o perdão da falsa modéstia, o maior radialista de todos os tempos. Desde Barbacena ele e o rádio eram amigos inseparáveis. Quando foi para Petrópolis trabalhar junto com meu saudoso e amado tio Wilson Carneiro Malta, eles se tornaram praticamente irmãos. Logo chegou o Flávio Cavalcanti e os deixou ainda mais próximos através da GRANDE CHANCE.
Nossa família transcende gerações pelo rádio… E vendo desde o vô, passando pela minha mãe e o meu tio, até chegar à mim, me pergunto: o que mudou desde o início? A resposta é: NADA. O rádio é e sempre será o rádio. Como todos que são “antenados”, ele teve que se modernizar, em alguns pontos até se reinventar, mas nunca perdeu seu jeito e seus princípios. Fazer o rádio acontecer não é difícil, mas também não é moleza. Não basta querer, tem que saber! Não basta gostar, tem que amar! Não adianta inventar, no máximo adequar. Vendo os Podcasts surgindo como a “grande novidade”, eu fico me perguntando: ESTÃO REINVENTANDO O RÁDIO? A resposta é NÃO! Não mesmo! Só estão dando o “braço a torcer” e valorizando essa ferramenta tão útil. Os Podcasts nada mais são que programas de rádio falados, tecnicamente chamados de talk radio. As máquinas conseguem até fazer programações musicais personalizadas, como nos YouTubes e Spotifys da vida, mas não conseguem replicar a emoção e a instantaneidade que comunicadores, repórteres e comentaristas passam… O rádio pode ser uma máquina, mas eu me arrisco a dizer que é a máquina mais humana da história.
Estou longe de querer ser gato-mestre, mas a opinião desse coração de radialista pode ser levada em conta. O rádio não está sendo redescoberto! Ele nunca deixou de fazer parte da vida de todos nós. Como dizem hoje por aí, fica a dica: não inventem a roda. Deem ao rádio seu devido valor e deixem que sua magia própria se encarrega do sucesso. E em primeiro lugar, sempre o OUVINTE. Sem o ouvinte ficamos mudos. O mesmo rádio de ontem, é o de hoje e SEM DÚVIDAS, será o de amanhã. Podem me cobrar! Não tenho pressa. Quando eu chegar aos cem que o rádio tem hoje, vocês me contam se eu acertei ou errei.