A Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), localizada em Santa Teresa, na região central do Rio de Janeiro, comemora seu 35º aniversário neste mês, e sua existência reflete a vitalidade do gênero literário conhecido como cordel. A missão da ABLC é elevar a tradição nordestina do cordel a um patamar de destaque no cenário literário nacional.
Esta instituição tem como principal objetivo valorizar e preservar a rica estética literária do cordel, promovendo a reflexão sobre ela e contribuindo para a formação de novos leitores. Além disso, a Academia reúne os principais expoentes da literatura de cordel no Brasil e investe na preservação e disseminação dessa manifestação cultural por meio da publicação de folhetos de diversos autores e da criação de bibliotecas de cordel, conhecidas como “cordeltecas,” em várias regiões do país.
O cordel é uma narrativa contada em versos, caracterizada por seu ritmo, rimas e métricas específicas, e está imersa na cultura regional nordestina. Embora muitos acreditem que o cordel seja uma criação brasileira, na verdade, ele foi trazido para o país pelos portugueses durante o período de colonização, inicialmente desembarcando na Bahia.
A literatura de cordel tem raízes ainda mais antigas, remontando à antiguidade greco-romana, fenícia, cartaginesa e saxônica. Na Península Ibérica, onde se encontram Portugal e Espanha, o cordel já era conhecido desde o século XVI, sendo chamado de “pliegos sueltos” na Espanha e “folhas soltas” ou “volantes” em Portugal. A palavra “cordel” deriva de “cordão, guita ou barbante,” pois esses folhetos eram exibidos pendurados.
No Brasil, o cordel assumiu características regionais e passou a retratar o cotidiano e as histórias do povo nordestino. A literatura de cordel foi disseminada por meio da comunicação oral, já que a comunicação impressa ainda era limitada no país naquela época. Os cordelistas, poetas do cordel, adaptavam as histórias à música de suas violas e passavam de povoado a povoado vendendo poesia.
O cordel também serviu como uma forma de informação e notícias para as comunidades rurais, já que o acesso aos jornais era limitado. Os cordelistas transformavam eventos e acontecimentos em versos, narrando episódios regionais, nacionais e até mundiais em seus folhetos.
Entre os pioneiros da literatura de cordel no Nordeste estão nomes como Jose Galdino da Silva Duda, João Martins de Ataide, Francisco das Chagas Batista e Leandro Gomes de Barros, considerado o pai do gênero. Leandro Gomes de Barros é tão importante para o cordel que uma rua em sua cidade natal, Pombal, na Paraíba, leva o seu nome.
O cordel passou por uma evolução estrutural ao longo do tempo, com a padronização das métricas e das estrofes. As diferentes métricas incluem versos de quatro sílabas, versos de cinco sílabas, sextilhas, setilhas, oitavas, décimas, martelo agalopado, galope à beira-mar, meia quadra e versos alexandrinos, que são os mais longos. A técnica de rima também é única, com a modalidade XAXAXA, em que apenas os pares rimam.
Os folhetos de cordel são padronizados em brochuras com cerca de 11 x 15 cm e podem ter 8, 16, 32, 48 ou 64 páginas. O formato básico contém oito páginas e 32 estrofes em sextilhas, setilhas ou oitavas. O conteúdo pode variar, indo desde dramas e tragédias até romances e sátiras. A harmonia sonora é crucial, uma vez que os poetas costumavam cantar trechos dos poemas nos mercados e feiras para atrair compradores.
A Academia Brasileira de Literatura de Cordel desempenha um papel fundamental na promoção e preservação dessa rica tradição literária, garantindo que o cordel continue vivo e relevante na cultura brasileira.